SEM RESERVAS
(Autor desconhecido)
De toda a energia, doar
até o último fôlego.
A cada dia, marchar
até os pés do crepúsculo.
De cada flor, entregar
até a última pétala.
Pois que não há sentido
em querer, como nossa,
uma gota sequer
do néctar que alimenta a grande Vida.
De toda a dor, entregar
até a última lágrima.
De todo alento, doar
como fosse uma dívida.
Com todo o amor, fabricar
deste mais puro bálsamo,
que torna mais leve a caminhada,
malgrado todas as feridas.
De toda luz, vou portar
a menor de tuas lâmpadas.
De tua mão, vou tomar
não mais que um só átomo
que sacie minha sede
e me torne uma fonte
que fecunde esse vale
e dê um novo fôlego
aos que ascendem
rumo ao horizonte.
Nada mais ansiar
reter,
por ilusão,
mais nada.
Só caminhar
e alcançar sentir-me,
então,
parte desta estrada.
Alçar vôo
da mais alta montanha
e ousar ver, enfim,
a unidade
daquilo que há em tudo
com aquilo
que há em mim.
Esgotar de vez a lógica e o sentido
de um mundo cego,
que ousa dividir o infinito
entre aquilo que acredito
e aquilo que nego.
Levar à exaustão
todo o recurso,
toda a razão,
que bloqueia
o Grande Rio,
em seu curso,
que separa a minha
da tua mão.
Deixai, Senhor,
que eu prove de teu cálice
na justa medida.
Não permiti,
Senhor,
que eu me embriague,
com tão forte vinho,
que já não entenda
a Vida,
que já não veja
o Caminho.
Sabeis que,
em meu peito,
há uma cifra,
uma mensagem.
Há que haver fôlego
para entregá-la
ao mundo
antes que chegue
ao termo esta viagem.
Senhor,
fazei com que meu nome
seja Entrega,
sonhai comigo
sem reservas,
sem limites,
pois que tu sabes que,
um dia,
eu saberei,
que, sem dúvidas,
serei aquilo
em que tu acredites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário