O que acharam do meu blogs?

Aos meus amigos

Sabendo que a nossa vida é por um tempo, é passageira; quero aqui declarar que umas das melhores e grandes coisas que pude receber e manter sempre viva, sempre acesa é e sempre será a amizade dos meus amigos. Este blogs tem como objetivo levar a todos amigos e amigas que a ele visitarem, sempre, uma palavra, uma ideia e um motivo de encontrarem respostas para suas inspirações, meditações e crescimento na fé.

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sexta-feira, 29 de junho de 2018

DE JOELHOS.

DE JOELHOS

“Bendita seja a Mãe que te gerou.” 
Bendito o leite que te fez crescer 
Bendito o berço aonde te embalou 
A tua ama, pra te adormecer! 

Bendita essa canção que acalentou 
Da tua vida o doce alvorecer ... 
Bendita seja a Lua, que inundou 
De luz, a Terra, só para te ver ... 

Benditos sejam todos que te amarem, 
As que em volta de ti ajoelharem 
Numa grande paixão fervente e louca! 

E se mais que eu, um dia, te quiser 
Alguém, bendita seja essa Mulher, 
Bendito seja o beijo dessa boca!! 

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas" 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

FALO DE TI ÀS PEDRAS DAS ESTRADAS.

FALO DE TI ÀS PEDRAS DAS ESTRADAS.


Falo de ti às pedras das estradas, 
E ao sol que e louro como o teu olhar, 
Falo ao rio, que desdobra a faiscar, 
Vestidos de princesas e de fadas; 

Falo às gaivotas de asas desdobradas, 
Lembrando lenços brancos a acenar, 
E aos mastros que apunhalam o luar 
Na solidão das noites consteladas; 

Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória, 
Levanta ao céu a torre dos meus beijos! 

E os meus gritos de amor, 
cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória, 
São astros que me tombam do regaço! 

Florbela Espanca, 
in "A Mensageira das Violetas" 

segunda-feira, 25 de junho de 2018

PERDI OS MEUS FANTÁSTICOS CASTELOS

PERDI OS MEUS 

FANTÁSTICOS CASTELOS

Perdi meus fantásticos castelos 
Como névoa distante que se esfuma... 
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: 
Quebrei as minhas lanças uma a uma! 

Perdi minhas galeras entre os gelos 
Que se afundaram
 sobre um mar de bruma... 
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? – 
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma! 

Perdi a minha taça, o meu anel, 
A minha cota de aço, o meu corcel, 
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias... 

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas... 
Sobre o meu coração pesam montanhas... 
Olho assombrada as minhas mãos vazias... 

Florbela Espanca, 
in "A Mensageira das Violetas" 

sexta-feira, 22 de junho de 2018

HORAS RUBRAS

HORAS RUBRAS

Horas profundas, lentas e caladas 
Feitas de beijos rubros e ardentes, 
De noites de volúpia, noites quentes 
Onde há risos de virgens desmaiadas... 

Oiço olaias em flor às gargalhadas... 
Tombam astros em fogo, 
astros dementes, 
E do luar os beijos languescentes 
São pedaços de prata p'las estradas... 

Os meus lábios são brancos como lagos... 
Os meus braços são leves como afagos, 
Vestiu-os o luar de sedas puras... 

Sou chama e neve e branca e mist'riosa... 
E sou, talvez, na noite voluptuosa, 
Ó meu Poeta, o beijo que procuras! 
...................................................
Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade" 

quarta-feira, 20 de junho de 2018

EU

EU

Eu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada ... a dolorida ... 

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! ... 

Sou aquela que passa e ninguém vê ... 
Sou a que chamam triste sem o ser ... 
Sou a que chora sem saber porquê ... 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou! 
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoa

segunda-feira, 18 de junho de 2018

A VIDA

A VIDA.


É vão o amor, 
o ódio, ou o desdém; 
Inútil o desejo 
e o sentimento... 
Lançar um grande amor 
aos pés d'alguém 
O mesmo é que lançar 
flores ao vento! 

Todos somos no mundo 
"Pedro Sem", 
Uma alegria é feita 
dum tormento, 
Um riso é sempre 
o eco dum lamento, 
Sabe-se lá um beijo 
donde vem! 

A mais nobre ilusão morre... 
desfaz-se... 
Uma saudade morta 
em nós renasce 
Que no mesmo momento 
é já perdida... 

Amar-te a vida inteira 
eu não podia... 
A gente esquece sempre 
o bem dum dia. 
Que queres, ó meu Amor, 
se é isto a Vida!... 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade" 

sábado, 16 de junho de 2018

FANATISMO

FANATISMO.

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, 
anda perdida. 
Meus olhos andam 
cegos de te ver. 
Não és sequer razão 
do meu viver 
Pois que tu és já 
toda a minha vida! 

Não vejo nada 
assim enlouquecida... 
Passo no mundo, 
meu Amor, a ler 
No mist'rioso 
livro do teu ser 
A mesma história 
tantas vezes lida!... 

"Tudo no mundo 
é frágil, tudo passa... 
Quando me dizem isto, 
toda a graça 
Duma boca divina 
fala em mim! 

E, olhos postos em ti, 
digo de rastros: 
"Ah! podem voar mundos, 
morrer astros, 
Que tu és como Deus: 
princípio e fim!..." 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade" 

quinta-feira, 14 de junho de 2018

TMIDEZ

       Timidez (Cecília Meireles)
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.

terça-feira, 12 de junho de 2018

AMAR

AMAR.

Amar!

Eu quero amar, 
amar perdidamente! 
Amar só por amar: 
Aqui... além... 
Mais Este e Aquele, 
o Outro e toda a gente... 
Amar! Amar! 
E não amar ninguém! 

Recordar? Esquecer? 
Indiferente!... 
Prender ou desprender? 
É mal? É bem? 
Quem disser 
que se pode amar alguém 
Durante a vida inteira 
é porque mente! 

Há uma Primavera 
em cada vida: 
É preciso cantá-la 
assim florida, 
Pois se Deus 
nos deu voz, 
foi pra cantar! 

E se um dia 
hei de ser pó, 
cinza e nada 
Que seja a minha 
noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... 
pra me encontrar... 
....................................
Florbela Espanca, 
in "Charneca em Flor" 

domingo, 10 de junho de 2018

JOSÉ



JOSÉ.
(Carlos Drumond de 
andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, 

José!José, para onde?

sexta-feira, 8 de junho de 2018

SAUDADES

SAUDADES

Saudades! 
Sim.. talvez.. e por que não?... 
Se o sonho foi tão alto e forte 
Que pensara vê-lo até à morte 
Deslumbrar-me de luz o coração! 

Esquecer! 
Para quê?... 
Ah, como é vão! 
Que tudo isso, 
Amor, nos não importe. 
Se ele deixou beleza 
que conforte 
Deve-nos ser sagrado 
como o pão. 

Quantas vezes, 
Amor, já te esqueci, 
Para mais 
doidamente me lembrar 
Mais decididamente 
me lembrar de ti! 

E quem dera 
que fosse sempre assim: 
Quanto menos 
quisesse recordar 
Mais saudade 
andasse presa a mim! 

Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade" 

quarta-feira, 6 de junho de 2018

SE TU VIESSES VER-ME...

SE TU VIESSES VER-ME...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, 
A essa hora dos mágicos cansaços, 
Quando a noite de manso se avizinha, 
E me prendesses todo nos teus braços... 

Quando me lembra: esse sabor que tinha 
A tua boca... o eco dos teus passos... 
O teu riso de fonte... os teus abraços... 
Os teus beijos... a tua mão na minha... 

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri 

E é como um cravo ao sol a minha boca... 
Quando os olhos se me cerram de desejo... 
E os meus braços se estendem para ti... 


segunda-feira, 4 de junho de 2018

AOS OLHOS DELE


Aos Olhos Dele

Não acredito em nada. 
As minhas crenças 
Voaram como voa 
a pomba mansa, 
Pelo azul do ar. 
E assim fugiram o 
As minhas doces 
crenças de criança. 

Fiquei então sem fé; 
e a toda gente 
Eu digo sempre, 
embora magoada: 
Não acredito em Deus 
e a Virgem Santa 
É uma ilusão apenas 
e mais nada! 

Mas avisto os teus olhos, 
meu amor, 
Duma luz suavíssima de dor... 
E grito então 
ao ver esses dois céus: 

Eu creio, sim, 
eu creio na Virgem Santa 
Que criou 
esse brilho que m'encanta! 
Eu creio, sim, 
creio, 
eu creio em Deus! 

Florbela Espanca, in 
"A Mensageira das Violetas

sábado, 2 de junho de 2018

VERDADE OU MENTIRA?

VERDADE OU MENTIRA?

É verdade? 
Claro que é mentira! 
A verdade nos inspira a mentir 
A mentira nos impõe o sorrir 
É mentira? 
Claro que é verdade! 
O sentido não faz sentido. 
Nascer sem ter morrido. 
É verdade? 
Claro que é mentira! 
Acordar sem ter dormido. 
E falar sem ser ouvido. 
É mentira? 
Claro que é verdade! 
Andar desprotegido 
Sem ter receio do bandido.
É verdade? 
Claro que é mentira! 
Correr livre do pecado. 
Fazer o certo sendo errado. 
É mentira? 
Claro que é verdade! 
Você é capaz de tudo. 
Mas, creia eu te iludo. 
Se é verdade ou mentira 
Pouco nos importa 
A verdade é falsa 
Quando a mentira é verdadeira 
A mentira é verdade 
Quando a verdade é besteira
Adilson Costa