QUEM OUVIRÁ MEUS GRITOS?
Quem, nessa hora,
francamente, ouvirá meu grito?
Se o que penso e falo agora,
são palavras atiradas ao vento.
O que eu escrevo não é nada...
Ninguém precisa ler o que eu rabisco.
O que eu digo não é tudo.
O que eu sinto,eu invento, minto.
Faltam palavras em minha boca...
Em meu vocabulário,
não sei usar dicionário.
Ninguém precisa ver tudo o que eu vejo
nem tampouco sentir tudo o que eu sinto.
Quando cai a noite e tudo emudece,
eu fico quieta e solitária como poeta
quando dá com os olhos num céu
repleto de estrelas e permanece parado,
estagnado e não sabe descrever tanta beleza.
Eu não sei de nada e só invento coisas
quando vejo tudo em alvoroço
e minha alma muda estremece...
Eu me recolho do mundo como um moribundo.
Mas ninguém precisa sair de seus lugares
para observar tais coisas.
Afinal, os dias passam, passam as horas
as estações do ano passam,
passa a vida e a humanidade também passa.
Contudo, e apesar de tudo,
ninguém precisa fazer nada.
E se eu falo, falo apenas por falar.
Minha voz rouca é só um eco
e vai, às vezes, pelas noites,
pelas alamedas iluminadas,
pelos jardins dos palácios,
pela periferia da cidade,
pelos portões dos barracos,
por toda parte.
Mas, a essa hora,
quem se importará comigo,
quem ouvirá minha voz,
quem acolherá meu grito ...
Quem???