Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
Adeus Ano Velho!
Eu moro no pé do morro, na entrada
da cidade, onde a Santa Padroeira
também fez sua morada.
Nossa Senhora do Monte Serrati
que a tudo vês lá do alto,
teus filhos carentes, vencendo a fome,
a dor e o cansaço, vêm juntos cantar
o teu canto de paz, de fé e de esperança,
que do pico do morro, em coro se rompe,
em preces e prantos.
Para festejar o teu dia, nesse monte tão
soberbo, vêm fervorosos e humildes fiéis,
suplicantes aos teus pés .
Virgem Santa Padroeira, que alumia
o morro inteiro, com teu manto santo
de mãe, cobres a cidade inteira
com a luz da tua candeia.
É tudo o que existe
acima dos céus
e abaixo da terra.
É o Dedo de Deus
colorindo o horizonte,
pintando o arco-íris,
sustentando tudo pelas mãos.
São os campos de trigo,
as fontes e os rios
transbordando
de águas límpidas, cristalinas,
alimentando a vida humana,
vegetal e animal.
É a primavera desabrochando flores
e o romper da aurora dia após dia...
É o círculo de vida
que se renova a todo instante.
São as florestas verdejantes
e o ar puro que respiramos.
São os mares despoluídos,
o brilho do sol,
da lua e das estrelas;
é a atmosfera respirar livre
dos gases poluentes e venenosos.
Poesia - natureza viva,
afinal, são os braços
de Jesus Cristo,
pregados no alto da cruz,
suplicando pelo amor,
pela justiça
e misericórdia aos homens
que promovem as guerras
para que se restabeleça
a paz na terra....
Eis aí, os livros!
Arrumados ou empilhados
uns por sobre os outros
enfeitando ,lindamente
as prateleiras das estantes,
nas salas de aulas, nas escolas,
nas bibliotecas das Universidades,
enfiados nas gavetas dos armários,
sobre a mesa do escritório,
levados no porta luvas do carro,
ou num cantinho da mala
no bagageiro do ônibus
na viagem de férias
ou mês como um amuleto
em cima do criado-mudo ,
o livro deverá estar sempre
á vista dos olhos
e ao alcance das mãos...
Toque o batuque, que eu gosto disso.
Sou dura no tombo e mole no requebrar.
Podem tocar o que quiser:
Valsa, tango e até mesmo mambo.
Já dancei na corda bamba...
Esse jogo de dança, eu conheço bem.
O compasso do frevo, o rebolado da salsa,
o samba e a gafieira me incendeiam.
Sou pedra bruta na vida,
difícil de lapidar.
Vamos sair do mundo um tanto
deixa melhorar que a gente volta
Vai ver, nunca aconteça
mas, vai entender a cabeça daqueles que sonham
É como ver além do mar
Vamos pela porta dos fundos
que haja silêncio e desatenção
que ninguém compreenda a nossa fuga
apenas entendam que há tanta lágrima por aqui
É como ser o próprio mar…
Há tanta gente tão só
procurando se achar no retrovisor
Como se a vida fosse um velho filme francês
Há tanta gente a se procurar
mas, o mundo é ébrio nas paixões
Como se a vida fosse um best-seller doce
Café?
FUGAZ
Espere, espere mais
um pouco, por favor,
que eu não sei se fico,
não sei se vou.
Espere o dia clarear,
espere o sol brilhar,
espere eu vestir
meu vestido branco,
espere o instante
do amor chegar.
Espere, espere,
meu amor...
espera, espera,
que mais tarde
Eu vou...
O HOMEM NÃO VIVE SÓ DE PÃO.
O homem não vive só de pão,
mas precisa também de moradia
e de uma aposentadoria digna
e de uma velhice tranquila,
de assistência médica, hospitalar,
de ensino e cultura
para se tornar livre
e poder caminhar com suas
próprias pernas.
E mais que tudo isso:
O homem necessita de trabalho,
para que o seu pão de cada dia,
não se limite apenas e tão somente
a uma cesta básica.
“Ao invés de dar pão ao homem,
Ensine o homem a pescar”.
FLASH III.
Há um segredo comigo,
que guardo a sete chaves,
prá ninguém saber que um dia,
eu fui menina levada.
Brincando de cabra-cega
No terreiro lá de casa,
eu pulava cercas de vara
e até arame farpado.
Antes que o dia venha chego
antes que se pergunte pelo sol ilumino
árvores vêm correndo atrás de mim
andam à minha sombra cálices de flor
e o delírio em meu rosto ergue
ilhas e penhascos de silêncio
cujas portas a palavra
desconhece
se ilumina a noite amiga e se esquecem
no meu leito os dias,
depois, quando as fontes
rolarem no meu peito
desabotoarem as vestes e dormirem
acordarei a água e os espelhos, e reluzirei
como eles, a lâmina das visões
então eu durmo.
Adonis, Poema
“...Assim, a mulher se foi seu caminho e comeu, e o seu semblante já não era triste. Levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o SENHOR, e voltaram, e chegaram a sua casa, a Ramá. Elcana coabitou com Ana, sua mulher, e, lembrando-se dela o SENHOR, ela concebeu e, passado o devido tempo, teve um filho, a que chamou Samuel, pois dizia: Do SENHOR o pedi.” 1SAMUEL 1:18b-20 |
Posicionamento de fé ou |
EU EXISTO
Eu Existo,
porque ao redor de mim,
todas as coisas se movem,
respiram e vibram
emitindo aos meus ouvidos
sons melancólicos, ruídos, sururus,
e luzes sobre um cenário
que retrata figuras, ou melhor,
personagens que ilustravam
as páginas de uma estória
Que o tempo amarelou.
Eu existo,
porque, mesmo anônima entre as pessoas,
estou lúcida em memória.
Eu posso ver e sentir, em cada criatura,
a ilusão e desventura de um rosto triste;
o riso e a alegria de cada olhar que se cruza;
o amor e a desilusão de cada adeus;
a tristeza e a saudade de cada voz que se cala;
todos os momentos perdidos
em todo o ser que passa,
cada lágrima que rola,
cada beijo esquecido,
cada abraço apertado,
cada tocar de mãos,
cada despedida.
Eu existo e vivo, afinal,
para cantar, apenas,
este instante.
Teus olhos se espreguiçam no meu peito
e dormem o riso morno das abelhas
tontas de mel rolando
amor – amado…
Teus lábios escrevem poemas sós, secretos,
nos meus lábios lacrados desta sede
que só tu sabes a paixão imensa…
Tuas mãos debulham rimas
em todo o meu dorso dourado
da tua presença
à sombra da tarde que escoa…
Tentar ficar longe de ti é fiasco, é legenda.
Fica rente a ti blasfêmia que Deus abençoa.
Adalcinda Camarão, Vidência
Lua de mel dura pouco.
Depois do casório, o tratado embola.
O amor muitas vezes
desfaz seus laços.
Os sonhos viram pesadelos
e o gosto pelos prazeres
já não é o mesmo.
De repente, tudo o que antes era alegria
se transforma agora em melancolia...
Abraços frouxos e gelados,
beijos sem sal, desencontro total...
Enfim, restam o vestido branco,
o álbum de fotografias,
os presentes arrecadados...
A lembrança de um lindo buquê
de flores entre as mãos
e a recordação da inesquecível passarela
de veludo vermelho, palco sobre o qual
,desfilou um dia um grande amor...
FRUGAZ.
Espere um pouco, por favor,
que eu não sei se fico,
não sei se vou.
Espere o dia clarear,
espere o sol brilhar,
espere eu vestir
meu vestido branco,
espere o instante
do amor chegar.
Espere, espere,
meu amor...
espera, espera,
que mais tarde
Eu vou...
TODOS PALHAÇOS.
Do palco do mundo,
eu dou o meu show
para a grande platéia.
Com nariz de palhaço
e minha cara pintada
de ruge e de pó,
eu chego no circo
e dou meu espetáculo.
Com cabelos trançados
e fitinhas nas pontas,
num vestido de bolas
com babados vermelhos
e colares de pérolas.
Em meus sapatos de couro,
modelo Chanel,
com bolsa de palha
e anel de doutora,
eu entro em cenário,
alegrando a platéia
e arrancando aplausos
de todos palhaços
que, no palco da vida,
também dão seus shows.
Mulher é poesia e é palavra
que ensina e vontade que não
acaba e é tempestade levada
e trazida vezes sem fim.
Mulher é misericórdia e é a
razão que nunca se perde e
é aquele pecado tão desejado
tão perdido, tão encontrado.
Mulher sente como nenhum
outro ser sente e ama de um
jeito próprio igual pétala
faz com sua inflorescência.
Mulher sente tudo e esquece
nada porque tudo reside no
coração que movimenta tudo
e o mundo e as pessoas.
MEUS VERSOS
Meus versos simples,
Eu os quero assim,
Bem ao meu jeito de ser:
Eles falam das coisas
Que eu vejo no dia a dia.
São pequenos retalhos
Colhidos do cotidiano.
Eu leio os noticiários
Dos jornais,
Assinalo algumas palavras
E as transcrevo em folhas
Brancas de papel sulfite,
E finalmente os classifico:
Poesias - natureza viva.
Eis aí, os livros!
Arrumados ou empilhados
uns por sobre os outros
enfeitando ,lindamente
as prateleiras das estantes,
nas salas de aulas, nas escolas,
nas bibliotecas das Universidades,
enfiados nas gavetas dos armários,
sobre a mesa do escritório,
levados no porta luvas do carro,
ou num cantinho da mala
no bagageiro do ônibus
na viagem de férias
ou mês como um amuleto
em cima do criado-mudo ,
o livro deverá estar sempre
á vista dos olhos
e ao alcance das mãos...
Todo esse modernismo é muito bom.
A ciência tecnológica avançou tanto nos últimos anos,
Que dá medo, até.
Basta um tocar de dedos para saber tudo
o que está acontecendo no mundo.
É de cair o beiço. Ah! Se fosse assim na minha cidade.
Fazer amigos, namorar, casar, jogar,
Pesquisar, vender, comprar...
Fazer tudo isso sem precisar sair de casa,
Economizar tempo e palavras também,
Tipo assim:
“-Pô, mano”
“-Eu q. tc. c/ V.”
“-Tá legal, bicho”
“-E v. ficou c/ ela?”
“-Ô meu”
“- Pô , tô fora”
“V. ñ sacou?”
“Onde v. nasceu?”
“Em SP. Cap...e v.?”
Eu ? Eu nasci no nordeste.
O progresso ainda não chegou por lá.
Minhas contas, eu as faço na ponta do lápis,
E cartões de Natal, eu os envio pelo correio.
QUEM OUVIRÁ MEUS GRITOS?
Quem, nessa hora,
francamente, ouvirá meu grito?
Se o que penso e falo agora,
são palavras atiradas ao vento.
O que eu escrevo não é nada...
Ninguém precisa ler o que eu rabisco.
O que eu digo não é tudo.
O que eu sinto,eu invento, minto.
Faltam palavras em minha boca...
Em meu vocabulário,
não sei usar dicionário.
Ninguém precisa ver tudo o que eu vejo
nem tampouco sentir tudo o que eu sinto.
Quando cai a noite e tudo emudece,
eu fico quieta e solitária como poeta
quando dá com os olhos num céu
repleto de estrelas e permanece parado,
estagnado e não sabe descrever tanta beleza.
Eu não sei de nada e só invento coisas
quando vejo tudo em alvoroço
e minha alma muda estremece...
Eu me recolho do mundo como um moribundo.
Mas ninguém precisa sair de seus lugares
para observar tais coisas.
Afinal, os dias passam, passam as horas
as estações do ano passam,
passa a vida e a humanidade também passa.
Contudo, e apesar de tudo,
ninguém precisa fazer nada.
E se eu falo, falo apenas por falar.
Minha voz rouca é só um eco
e vai, às vezes, pelas noites,
pelas alamedas iluminadas,
pelos jardins dos palácios,
pela periferia da cidade,
pelos portões dos barracos,
por toda parte.
Mas, a essa hora,
quem se importará comigo,
quem ouvirá minha voz,
quem acolherá meu grito ...
Quem???
Primavera
Os pássaros em cantoria
Sob a luz que o Sol irradia
Revela o final de uma espera
O sorriso da natureza
Encanta por sua beleza
Anunciando a Primavera
A mais bela das estações
Arrebata nossos corações
Provocando enorme euforia
A variedade de cores
Que se apresenta nas flores
Completa a grande harmonia
A vida se espalha no ar
Em acordes que fazem lembrar
A magia de linda canção
Prolongando-se no espaço
Num afinado compasso
Para findar no Verão
Pedro Martins
2004
