PRESENÇA.
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos…É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo…Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae respirar-te, azul e luminosa, no ar.É preciso a saudade para eu sentircomo sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevistaque nunca te pareces com o teu retrato…E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
É partindo de duas dicotomias que se constrói o poema Presença: por um lado vemos os pares opositores passado/presente, por outro lado observamos o segundo par opositor que serve como base da escrita (ausência/presença).
Pouco ou nada ficaremos sabendo dessa misteriosa mulher que provoca nostalgia cada vez que a sua lembrança é evocada. Aliás, tudo o que saberemos dela ficará a cargo dos sentimentos originados no eu-lírico.
Entre esses dois tempos - o passado marcado pela plenitude e o presente pela falta - ergue-se a saudade, mote que faz com que o poeta cante os seus versos.
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