CARTA A PAPAI NOÉ
- De Chico Pedrosa.
Seu moço / eu fui um
garoto / infeliz na minha infança/ vim saber que fui criança / Já pela boca dos
outro. / Só brinquei cum gafanhoto / que achava no tabulero / com minhas vacas
de osso/ Essas porquêra seu moço / que se arranja sem dinheiro.
Quando eu via um gurizinho
/ brincano de velocipe / de caminhão, de jipe, / revorve e cornetinha / vinha
dentro de mim /um disgosto que dava medo. / Ficava chupano dedo e chorava o
resto do dia / só porque eu não pudia pegar naqueles brinquedos.
Mas perguntei certa vez /aos fios de um dotôr / Diga fazendo um favô /quem dá isso pra voceis / Me
responderam os trêis / Esse aqui é os presente / que a gente vai dormir / e as
vêis a gente nem nota / aí Papai Noé bota / Pra perto do berço da gente.
Fiquei naquilo pensano / E
fui / inté o Natá chegá / E na noite do Natá eu fui dormi me lembrano / Acordei e
fiquei caçano / por onde havia deitado. / Seu moço eu fui enganado / Pois de
presente só tinha / minha borsinha de mijo / que eu mesmo tinha mijado.
Saí com a bichiga preta /caçando os amigos meus/ quando eles mostraram a eu, /caminhão, carreta, bola,
revorve, corneta / trem elétrico, inté boneca, máquina de pé / Eu num brinquei
/ resorvi logo escrevê uma cara a Papai Noé.
Papai Noé, é pecado /os outro te martratá / Mas eu vou lhe reclamar /um tróço que tá errado / Aos fios do deputado /você dá tanto carinho / Mas você é muito ruim / que lá em casa não vai / Por certo num é meu pai / se não se lembra de mim / Já tô certo que você só bajula /somente o povo seu.
E um pobre cumo eu / você
vê, fáiz que num vê / Se vê porque que lá em casa num vem? / O rancho que a
gente tem é bem pequeno, mas cabe mais um / será que o sinhô num sabe que pobre é gente
também? / Você de roupa encarnada, colorida e bonitinha / Nunca reparou que a
minha já está toda rasgadinha.
Seja mais meu camarada /para eu num te chamar de ruim / Nesse Natar faça assim / Dê menos aos fios dos
rico / de cada um tire um tico / E traga um presente prá mim. / Meu endereço eu
vou dá / A casa que eu moro nela / fica naquela favela /que o sinhô nunca foi lá
/ Mas quando você chegá /que avistar uma paioça coberta de lona grossa / e uma
porta de franze com dois buracão bem grande / Pode bater, que é a nossa.


Esse poema é de autoria do poeta Luiz Campos.
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